Imigrantes relatam condições de trabalho na região

Foto: Vania Marta Espeiorin

Imigrantes contaram experiências ao público

Com o tema Imigrantes versus Mundo do Trabalho, a Câmara de Vereadores foi palco de mais um encontro na última sexta-feira, dia 21, integrando a programação do Ciclo de Debates Novos Movimentos Migratórios e Políticas Públicas. A discussão foi comandada pelo advogado Ricardo Bertoncini, pela procuradora do Trabalho/MPT-PRT-4ª Região, Patrícia de Mello Sanfelicini e pelos membros da FGTAS/Sine Fernanda Hein, Nilmar Bocorny e Sigrid Hun. A Associação dos Imigrantes Haitianos de Caxias do Sul (AIHCS) e da Associação dos Imigrantes Senegaleses de Caxias do Sul (AISCS) também estiveram presentes.

Inicialmente, os haitianos e senegaleses explanaram sobre como é o mercado de trabalho em seus países, numa comparação com o Brasil. Em nome dos haitianos, se pronunciou Verone Jean Salomon, 38 anos. O ceramista contou que, após o terremoto no Haiti, a situação ficou difícil e quase não há mais serviço. Segundo ele, é diferente o trabalho no país de origem em relação ao que se tem em solo brasileiro. “Lá não existe carteira de trabalho, e não há atendimento médico em hospitais para quem é vítima de um acidente de trabalho. No Brasil, existem empresas de ramos mais variados, como da construção civil e frigoríficos”, exemplificou.

Já no Senegal, de acordo com o representante da AISCS, o montador Amed Samb, o salário e a forma de trabalho não seriam tão distintos do Brasil. Entretanto, no Senegal, a oferta de empregos não atende à demanda da população. “Por isso há a necessidade de migrarmos para outros países”, justificou. Samb explicou que no Senegal existe carteira de trabalho, mas a maioria das pessoas não possui, e disse que em seu país de origem a maior parte das pessoas  trabalham na construção civil e no comércio.

Na segunda parte do encontro, os representantes de entidades esclareceram sobre os atendimentos prestados no segmento. Fernanda Hein, do Sine, disse que a unidade tem feito grupos para encaminhamento ao emprego em diferentes empresas da região. “É um período complicado para contratações porque a indústria faz recesso. Mas é uma situação que se normaliza a partir de fevereiro. Entre as empresas que mais contratam, estão as de construção civil, frigoríficos, coleta de lixo”, acrescentou. Conforme ela, já foram emitidas 2.330 carteiras de trabalho a imigrantes que estão em Caxias e região. Por fim, Fernanda destacou a importância de aprimorar o Português. “Muitas vezes, essa é a justificação para as não contratações”, justificou.

Atuando em prol dos imigrantes, o advogado Ricardo Bertoncini verifica que as dificuldades enfrentadas por muitos estrangeiros se deve ao fato de o sistema de trabalho em seus países ser  menos organizado. “Ao chegar ao Brasil, acabam se deslumbrando com as possibilidades e as condições salariais, só que começam a sofrer porque acabam não compreendendo o mundo do trabalho daqui”, disse. Além disso, Bertoncini observa que há equívocos de  parte de alguns empregadores. Um deles é não explicar ao estrangeiro os motivos, por exemplo, de uma demissão. “O imigrante não entende  porque foi demitido por justa causa e o colega brasileiro do lado, que também estaria envolvido na situação, segue trabalhando”, aponta o advogado.

Bertoncini conta que já recebeu queixas de imigrante por esforço repetitivo e que a barreira cultural, por vezes, facilita a discriminação. “Mesmo assim, não raramente, os imigrantes optam por não buscarem a justiça e terem seus direitos. O medo de perder o emprego não permite”, relata.

Procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT-PRT-4ª Região), Patrícia de Mello Sanfelici explicou a função do MPT e ressaltou que, no Brasil, a legislação nessa área é protetiva e não tolera discriminação. “Trabalhamos para garantir os direitos trabalhistas a todos que se encontram em território brasileiro”, destacou. Para ela, as irregularidades que atingem os imigrantes são causadas porque estes não conhecem a legislação. “Ele trabalha mais de oito horas por dia, e acha que é normal. Se não receber suas férias, ou tiver um salário inferior aos demais, acha que é normal também”, justificou. Diante disso, ela sugere que as entidades e órgãos produzam materiais e ações que facilitem essa compreensão.

Para a procuradora, a diversidade precisa também ser respeitada e o MPT está à disposição. “Talvez isso seja o mais difícil. Precisamos garantir a igualdade permitindo a diversidade. O Brasil é conhecido no exterior como um lugar acolhedor, e tem que ser assim na prática. No trabalho, um estrangeiro não deve receber menos que um brasileiro no exercício da mesma função”, frisou.

O Ciclo de Debates Novos Movimentos Migratórios e Políticas Públicas é uma promoção da Câmara de Vereadores, por meio da Comissão dos Direitos Humanos, Cidadania e Segurança da Câmara Municipal (CDHCS). A programação teve início no último dia 12 e segue até 14 de dezembro. A ideia é discutir políticas públicas para os novos habitantes do município, a partir de relatos deles, bem como de profissionais da saúde, professores, pesquisadores, entidades e autoridades envolvidas no processo.

PROGRAMAÇÃO ATÉ DEZEMBRO

28/11 – Sexta-feira, 18h – Educação – Desafios e Aprendizagens no Contexto Imigratório –

Painelistas: AIHCS, AISCS, Prof. Glaucia H. Gomes, pres. do Conselho Mun. de Educação, Prof. Luciane Todeschini Ferreira e estagiárias/UCS, Prof. Elizane F. Pruner, Thais de Quadros e Márcio Almeida (EMEF José Protázio), Prof Katiúscia C. Viezzer e alunos (EEEM José Generosi)

01/12 – Segunda-feira, 18h – Saúde e Imigração, Desafios e Propostas

Painelistas: AIHCS, AISCS, Equipe da Secretaria Mun. de Saúde (Dra. Dilma Tessari/Secretária, Dr. Cézar A. Roncada, Tânia M. Boniatti, Dra. Maria Inez Bertelli e enfermeiras Juliana A. Calloni e Grasiela C. Gabriel), Ana Maria Mezzomo Bedin (coordenadora do CEREST-Serra)

12/12 – Sexta-feira, 18h – O papel da Assistência Social na Inclusão dos Imigrantes

Painelistas: AIHCS, AISCS, Vanessa Moojen (assistente social do Centro de Atendimento ao Migrante), Alda Lundgren (diretora da Proteção Social da Fundação de Assistência Social/FAS)

14/12 – Domingo, às 14h – Marcha dos Imigrantes – Saída da Praça Dante Alighieri

Os estrangeiros caminharam por cerca de duas horas ao som de músicas tradicionais, com letras alusivas a sentimentos de união, amor e religião e destacaram o respeito ao Brasil e, em especial, aos caxienses.

Foto: Vania Espeiorin

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